sexta-feira, 30 de maio de 2014

O eu e o corpo

          Me sinto presa. São amarras físicas que não cedem. Na verdade, se pensar por outro lado, cedem como se fossem de elástico, rasgando, fazendo novas marcas que não convidam, apenas massacram. Olhando pelo outro lado, eu já estive do outro lado. Olhando pelo outro lado, eu não escolhi estar presa.
            De qualquer maneira, tomei decisões. A cada novo dia olhei para meu invólucro, e entre decidir e não decidir se deveria me preocupar com o que ele dizia para o mundo, escolhi me esconder. E é claro que por ser uma opção nova (deixe-me lembrá-lo que já estive do outro lado!), senti uma imensa  vontade de não ter que ir a lugar nenhum. De ficar inadiavelmente estudando as formas das minhas rachaduras, e pensar: o que fiz de errado?
              Errar também foi uma escolha. A resposta acessível, dolorida mas possível, fatigável mas possível, estava nos meus hábitos e na aprovação que eu esperei como conclusão inevitável; como uma última alternativa, até tentei persuadir que minha satisfação era austera.
               Nada passou de uma inquietante ilusão. Entre olhar para o horizonte e comer minha rotina, me vejo engastada entre perder, tentar, desistir, repensar, chorar, e por que não dessa vez? Comi mais um pedaço, mais um pedaço de mim.

quarta-feira, 28 de maio de 2014

Escrita e poder

           Já passei por milhares de fases. Poesia, narrativa, conto. Não que eu seja poeta, romancista ou contista. De qualquer maneira, as palavras parecem pipocar na minha mente e comer minhas entranhas. A cada novo dia elas pedem para se libertar do emaranhado da minha mente, e por que não ceder?
           Ainda estou decidindo se posso ou não expandir essa aventura. Ainda preciso pensar se devo e quero perceber, desenhada em forma de linguagem, a loucura dos meus pensamentos. Pelo menos sei que detenho o poder da não efemeridade. Posso me manter, existir, refletir, persuadir, pelas minhas palavras.
              E o princípio de tudo isso foi perceber:

Não importa quantas pessoas eu via, ou o que pensava. Eu sou a mesma pessoa, escrevendo sobre pessoas diferentes.