sexta-feira, 30 de maio de 2014

O eu e o corpo

          Me sinto presa. São amarras físicas que não cedem. Na verdade, se pensar por outro lado, cedem como se fossem de elástico, rasgando, fazendo novas marcas que não convidam, apenas massacram. Olhando pelo outro lado, eu já estive do outro lado. Olhando pelo outro lado, eu não escolhi estar presa.
            De qualquer maneira, tomei decisões. A cada novo dia olhei para meu invólucro, e entre decidir e não decidir se deveria me preocupar com o que ele dizia para o mundo, escolhi me esconder. E é claro que por ser uma opção nova (deixe-me lembrá-lo que já estive do outro lado!), senti uma imensa  vontade de não ter que ir a lugar nenhum. De ficar inadiavelmente estudando as formas das minhas rachaduras, e pensar: o que fiz de errado?
              Errar também foi uma escolha. A resposta acessível, dolorida mas possível, fatigável mas possível, estava nos meus hábitos e na aprovação que eu esperei como conclusão inevitável; como uma última alternativa, até tentei persuadir que minha satisfação era austera.
               Nada passou de uma inquietante ilusão. Entre olhar para o horizonte e comer minha rotina, me vejo engastada entre perder, tentar, desistir, repensar, chorar, e por que não dessa vez? Comi mais um pedaço, mais um pedaço de mim.

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